Estamos todos em cima do muro
… Ou “Pois sou criança e não conheço a verdade”
Estamos todos em cima de um muro. De um muro construído com os escombros de ideias desconstruídas.
Escrevo esse texto enquanto a cabeça fervilha. Fervilha de referências, de dúvidas, de certezas quebradas. Penso na Cássia Eller, da citação acima, (que, na verdade, é de Cazuza e Frejat, compositores de “Malandragem”) e também penso no Bertrand Russell, com sua célebre frase:
“O problema do mundo de hoje é que as pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas, e as pessoas idiotas estão cheias de certezas”
(Não que eu seja uma das “pessoas inteligentes”, mas eu vejo os idiotas cheios de certeza a todo vapor). Então, penso no “The Wall”, do Pink Floyd; logo depois, na famigerada (e falida, graças a Deus) ideia de muro do Trump, que seria erguido para isolar os EUA da “corja” latina.
Então, penso em meu próprio muro. O muro de todos nós. O muro que escalamos e não conseguimos descer. O muro de lamentações, o muro de incertezas, o muro que nos separa do “vírus” e nos isola do antigo mundo (aquele que não existe mais), o muro construído com tudo o que foi sendo desconstruído. De fora da Terra, a única coisa distinta, além das águas é um muro. Isso já diz muita coisa, não?
Muro, muros… Repito mentalmente a palavra até ela perder seu significado, mas mesmo que a palavra deixasse de existir, o que ela representa continuaria lá. Isso porque desde a infância nossas personalidades começam a ser moldadas. Nossas crenças, nossas experiências, traumas, medos… O primeiro muro, formado a partir de muita proteção, certezas e conforto, está sendo erguido com sucesso. #ValeuRoger
Com o passar dos anos, com um estrondo causado pelos sustos, humilhações, confrontos, aprendizados, preconceitos, discriminações e tantos lados de uma moeda que mais parece um trapezoedro — essas construções, aparentemente tão sólidas, caem por terra.
E elas desabam dolorosamente, levando consigo uma parte de nossas certezas confortáveis, que nos anestesiavam e nos deixavam com a vã sensação de que tudo estava sob controle.
As perguntas são pedrinhas e se você não consegue responder, elas se tornam as pedrinhas que formam a estrutura do muro “isentão”.
É por este motivo que tantos odeiam a religião. A maior parte de seus fiéis seguem, sem nenhuma crítica ou confrontamento com a realidade, o que é ministrado dentro daqueles espaços “santos”. Tudo parece escrito em pedra, uma pedra dura o bastante para ferir a cabeça de quem não se adequa, mas débil demais para que resista a algum senso crítico.
E também são essas pedras, meus caros, mais essas pedras, que constróem os muros. E nada é mais difícil do que jogar por terra essas paredes, que servem como um novo apoio a uma possível “neutralidade”. A falsa neutralidade é o espacinho confortável do muro. E, destruir o muro, evidentemente, fará você cair para um lado. E, de novo, chegam os confrontos.
A busca pela tal da “verdade” parece ser mais dolorosa que parece. Qual é a verdade? O que lemos nos livros de escola? O que está no Jornal Nacional? Ou o que falam nossos pais, ou o Youtube, ou o que consta nos tratados acadêmicos…? Ou um texto de alguma criatura confusa que escreve no Medium?
A metamorfose ambulante x a opinião formada sobre tudo
Esse texto está cheio de referências musicais. Sério. Eu sou um rádio dentro de um corpo humano.
O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete.
Aristóteles
Não culpo os isentões, até porque, eu mesma, luto para assumir lados. Ao contrário do que pregam os “liberais”, nem sempre o diálogo e a conciliação são o caminho. Duvida? Então, te desafio a dialogar com um intolerante. Alguém que apoia de forma veemente regimes totalitários, como o nazismo.
Na real, todo mundo está se questionando um pouco no que acreditar? É tanta fake news pregando ser verdade oculta desvendada, tanta informação que desinforma, é tanto lado que a gente fica mais tonto que torcedor em arquibancada de jogo de tênis. E olha que ali, pelo menos, são apenas dois lados. Há ainda quem torça pelo muro, ou melhor, pela rede. Lá estão os lugares reservados para os isentões. E você, de que lado está?